Rubem
Fonseca certamente será figura carimbada aqui no Metáforas & Reticências. O motivo? Ele nos apresenta os
melhores romances do gênero policial da literatura contemporânea brasileira (Já
tinha lido outros romances do gênero, principalmente os da Agatha Christie, mas
não tinham me cativado tanto). Uma obra tem me levado à outra. É que Rubem
Fonseca tem o hábito de resgatar personagens de romances anteriores e dar à
eles uma continuação, inserindo-os em novas tramas e nos apresentando novas
características a seu respeito. Bem assim foi com Gustavo Flávio. Em “Bufo & Spallanzani”, nosso escritor
(fictício) faz sua primeira aparição e é nessa obra que podemos conhecer o
passado desse personagem, do qual já falei um pouco quando fiz a resenha de “E do meio do mundo prostituto só amores guardei ao meu charuto”.
Gustavo
Flávio (que desconfio ser um alter ego do Rubem Fonseca), narra o romance e o
transforma em seu livro de memórias. Aqui, nosso protagonista revela o seu
passado, relata o assassinato de Delfina Delamare (e o seu envolvimento), sua
impotência criativa para escrever seu novo romance e, claro, sua movimentada
vida amorosa (se não fosse assim não seria Gustavo Flávio, convenhamos).
Em
“Bufo & Spallanzani”, pude
conhecer outros livros escritos por Gustavo Flávio (fui tomando nota de cada um
no decorrer da narrativa, porém nem todos tinham especificados do que se
tratavam), são eles: “Morte e esporte: agonia como essência”, “Os amantes” (uma
história de amor entre uma cega e um surdo-mudo), “Trápola” (um romance
policial), “A dança do morcego” e “Joseph Mengele, o anjo da morte”, bem como
conhecer outras amantes, como Zilda, Minolta e Madame X (mais tarde revelada
como Delfina Delamare).
Não
tenho a intenção de fazer um resumo da obra (isso já existe em demasia na
internet, CLIQUE AQUI), gosto de fazer breves apontamentos sobre o
livro, e dos protagonistas muito bem construídos por Rubem Fonseca que, neste
caso, é Gustavo Flávio.
- Citações:
“’O
escritor é vítima de muitas maldições’, eu disse, ‘mas a pior de todas é ter de
ser lido. Pior ainda, ser comprado. Ter de conciliar sua independência com o
processo da sua consumação. Kafka é bom porque não escrevia para ser lido. Mas
por outro lado Shakespeare é bom por que escrevia de olho no shilling que
cobrava de cada espectador (ver Panofsky). Assim como o teatro não se salvará
apenas com a coragem de escrever peças que ninguém queira assistir, a
literatura também não se salvará apenas com a coragem de escrever outros
Finnegans Wake.’”
“O
escritor deve ser essencialmente um subversivo e a sua linguagem não pode ser
nem mistificatória do político (e do educador), nem a repressiva, do
governante. A nossa linguagem deve ser a do não-conformismo, da não-falsidade,
da não-opressão. Não queremos da ordem ao caos, como supõe alguns teóricos. E nem
mesmo tornar o caos compreensível. Duvidamos de tudo sempre, inclusive da
lógica. Escritor tem que ser cético. Tem que ser compra a moral e os bons
costumes. Propércio pode ter tido o pudor de contar certas coisas que seus
olhos viram, mas sabia que a poesia busca a sua melhor matéria nos “maus
costumes” (ver Veyne). A poesia, a arte enfim, transcende os critérios de
utilidade de nocividade, até mesmo o da compreensibilidade. Toda linguagem
muito inteligível é mentirosa.” (Pág. 105)
FONSECA, Rubem. Bufo & Spallanzani. São Paulo: Companhia das Letras. 1991.